“Cale-se, passado”
Diz sua mente linear.
Mas sorrateiramente ele se embrenha através de pensamentos impuros, imagens que se estampam como uma memória do que não foi vivido.
Você insiste em apagá-lo por meio de sonhos fantasiosos de uma realidade aparente, mas espelhos continuam a refletir histórias injustas.
Em toda parte ele se reconstrói e não se desmancha; mas que fantasmas são esses, tão invasivos? Você grita em seu íntimo: “De onde você vem, passado impertinente?”
Então ele responde:
“Eu não estou onde você pensa, eu não existo nesse lugar que você imagina...
Estou bem aqui, junto a você.
Você me chamou, e eu vivo onde você me recria.”
Agora em um diálogo com um inconveniente desconhecido, ingenuamente ele te oferece um livro de histórias gravadas no tempo.
Sua curiosidade irresistível, disfarçada de cansaço e rendição, o leva a uma alucinante viagem, que inicialmente lhe parece surreal; mas de forma imprevisível você passa a sentir-se seduzido por uma intimidade desconfortável, que aos poucos toca seus sentidos.
E, por incrível que pareça, você se encontra em pleno relacionamento com o que foi tão corajosamente rejeitado ‒ o passado, que é tão presente.
E o que lhe era pernicioso e perseguidor está diante de você clamando por seu olhar, seu colo, seu acolhimento, sua aceitação, seu perdão, sua compaixão; por um longo e caloroso abraço.
E no momento em que o invisível e oculto se revela a sua frente, você responde ao chamado, e então se rende ao encontro, o reconhece.
Agora não há mais barreiras a separá-los, apenas a diversão com as roupagens de que se revestiram na linha do tempo.
E na lembrança desta íntima ligação que possuem, se despedem amigavelmente.
Quando você se dá conta, está sorrindo, gratificado pelo reencontro, aliviado pela despedida do medo e de outros incômodos tão desconfortáveis!
Bem-vindo!
Merecidamente um mundo novo se abre pra você.
Você conseguiu: conduziu tudo a seu devido lugar!
Sonia Monteiro
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